domingo, 8 de janeiro de 2017

Príncipe Ribamar - Por João Caboclo

   Durante 50 anos, viveu nesta cidade de Juazeiro do Norte, um moço solteirão que se intitulava de "Príncipe Ribamar". Se dizia filho de nação estrangeira, sendo possuidor de todos os minérios do mundo. Figura bastante popular entre a população: cor morena, estatura elevada, físico esguio. Nos dias de festas, Dia do Município, 7 de Setembro, trajava vestes reais: chapéu de penacho, sapatos com emblemas, muitas medalhas em metais luminosos lhe ornavam o peito, casaca de botões dourados, espada e outros aparatos que lhe davam aparência real. Usava óculos escuros e andava de forma imponente. Costumava conversar com pessoas eminentes, autoridades e frequentava diariamente as agências bancárias  da cidade.
   Pelas suas qualidades de homem pacato e respeitador, todos lhe davam atenção. Era um excelente marceneiro: foi ele quem fez os cruzamentos e tesouras de madeira para a construção do Santuário São Francisco, cines Eldorado e Capitólio, caramanchões e outras obras em madeira. Andava sempre com uma maleta feita de madeira e fórmica, contendo na mesma, cheques e documentos (desvalorizados), nos quais se viam vistos e carimbos comerciais, assinaturas de doutores, autori-dades, advogados e homens de boa compreensão, que o faziam para satisfazer e consolar os inventos daquele inofensivo homem de mente fraca e fixa. Foi um louco que jamais ofendeu física ou moralmente a quem quer que seja. Conservava o riso da inocência nas suas feições, acreditando em tudo o que lhe diziam. Com a idade já bem avançada dizia não ter casado ainda por não ter encontrado a princesa "Gioconda". Ganhava muito pouco, mal dando para sustentar a si mesmo. Mo-rava com sua mãe e uma irmã, que logo vieram a falecer enfraquecidas pela fome.
   Suas ideias foram sempre de uma luminosidade extraordinária, não deixando de haver aquelas de grande fantasia. Em 1950, criou ele a ideia de fazer uma fábrica de fumaça, para matar insetos e alguns viventes que estavam atormentando os macacos de sua fazenda, dos quais seria tirado o couro para o fabrico de cédulas de 5 a 10 mil cruzeiros, de um novo padrão monetário. Contudo até parece que o mundo aderiu a esta ideia, pois a poluição causada pelos disparos atômicos, chaminés de fábricas e óleo, vinha matando peixes e aves. Em 1960, começou a cortar as cercas de arame que serviam para isolar o antigo campo de aviação de Juazeiro do Norte, dizendo ser para a construção de um grande prédio e ao seu lado um Quartel General para o Exército.  Idealizou a construção do Banco Real, no triângulo que separa as três cidades: Crato, Juazeiro, Barbalha. Em 1957, subiu ele a serra do Horto e a demarcou toda, dizendo ser o local apropriado para a iluminação total de Juazeiro. Idealizou também, fazer funcionar um bonde elétrico, partindo de Juazeiro para o Horto e vice-versa, chegando mesmo a roçar parte de mato por onde ele queria que passasse o bonde. Em 1964, o "Príncipe Ribamar" já se preocupava com o tratado de paz mundial. 
   Sempre dei o melhor de minha atenção aos loucos. Gostava muito de conversar com o "Príncipe Ribamar", falar de suas aventuras, do progresso e da paz. Já nos últimos dias de sua vida, esteve ele em minha casa e conversamos bastante. Perguntei-­lhe qual o estado de saúde, no que respondeu sentir muita dor de cabeça, devido suas preocupações com o tratado de paz mundial. Perguntei qual seria seus mais recentes projetos como Governador Imperial. Respondeu-me ser a construção de dois grandes hospitais, um destinado aos tuberculosos e outro para tratar dos loucos. - Qual o primeiro a ser construído? - Será o sanatório na serra do Horto, para isto já fiz pedido de 200 tratores, que irão aplainar a serra no seu topo. Este hospital ficará localizado ao lado da estátua do Padre Cicero, local por mim escolhido. Os tratores quebrarão as pedras que servirão para a construção de um prédio de 200 metros de comprimento e 100 de largura. O Prédio terá dois andares e suas jane-las principais voltadas para Juazeiro, bem iluminado para ser visto de longe, confirmando a cidade alta, com a construção de casas de verão ao redor. 
   Perguntei quando seria inaugurada aquela obra e ele me respondeu que seria em 1985. Abriu sua maletinha e mostrou-me a planta do pré-dio, onde os doentes se restabeleceriam muito rapidamente devido o clima serrano.
ENCONTRO COM A MORTE
   Era um dia da Quaresma de 1978, quando os rádios anunciaram a morte do "Príncipe Ribamar". O prefeito da cidade, Dr. Ailton Gomes, mandou que o enterro fosse providenciado com todas as despesas pa-gas pela municipalidade. Tinha tombado sem vida aquele pobre ho-mem, dono de tanta riqueza imaginária. No momento exato em que foi fazer seu cafezinho como era acostumado, tombou com a marmita na mão. Seu corpo foi visitado por inúmeras pessoas.
   - Tua alma, Príncipe Ribamar, seguiu para um mundo melhor... Para Deus. Tuas ideias foram luminosas, de uma maneira aparente teus dese-jos foram realidade!

Nenhum comentário: