segunda-feira, 24 de abril de 2017

O PRINCIPE RIBAMAR E MARIA DARIU - Uma história real Autor: João Bosco R. Esmeraldo

Barbalha, 1966, lugar onde passei os últimos anos de minha infância e onde também adolesci, foi palco dessa fantasia vivida por duas pessoas mui especiais.

Na vizinha Juazeiro do Norte, os cronista e locutores da Radio Progresso Geraldo Menezes e seu irmão Walter Barbosa escreveram muitas crônicas e, entre tantos temas um era sobre o Príncipe Ribamar. Era um pobre coitado, falto das faculdades mentais, que cria ser um príncipe de algum reinado de fantasia qualquer, não recordo qual. Esse Príncipe andava sempre a caráter, trajando farda com galões e apliques imitando condecorações, tipo broches no peito, na lapela e nos ombros, franjinhas em amarelo ouro. Não tenho a mínima ideia onde ele conseguia tudo aquilo.

Sempre andava com uma carta de apresentação no bolso descrevendo suas credenciais de príncipe por onde quer que fosse. Certa vez, foi gratuitamente espancado por 'filhinhos do papai' e, por pouco, não foi a óbito. Ficou quase cego. Não me recordo do verdadeiro nome do Príncipe Ribamar, mas ainda posso ver mentalmente suas feições e seu porte físico etc. Como ele levava a sério aquela fantasia! Era o seu mundo verdadeiro, apesar de pura virtualidade.

Maria Dariu era uma pobre viúva que morava em Barbalha. Coitada. Era esquálida, esquelética de fazer dó! Caolha, desdentada com apenas dois dentes superiores (um incisivo e seu vizinho, o canino, amarelo amarronzado pela piorreia). Nutria a ilusão de que era uma espécie de Miss da Região. Dizia-se noiva do Príncipe Ribamar.

Don Nadie era um jovem bem afeiçoado, muito inteligente. Estudava num colégio da cidade. Morava em cada de sua tia. A sala de visita, adaptada para um salão de beleza. Marsíria fora diplomada pela Niasi, num curso de verão em Salvador. Um salão bem frequentado. Maria Dariu gostava de ir à casa da cabeleireira. Era mui amiga da secretária do lar, Jura. Adorava contar suas quimeras virtualmente vividas com o seu príncipe encantado. Todos sabiam que não passava de uma mera ilusão, mas ninguém ousava desiludi-la.

Numa dessas idas à casa de D. Marsíria, Dariu encontrou Don Nadie e foi amor à primeira vista. Tratou logo de descartar o pobre príncipe desencantado. Don ficou irado, sem gostar nem um pingo daquela ridícula história. “Onde já se viu uma coisa dessas!”, Pensava indignado. E tratou logo de bolar uma saída.

Ele ainda era imberbe, bursando um tênue bigode quase invisível. Caprichou um bigode junino, costeletas e carregada sobrancelhas com o lápis de maquiagem da tia e foi falar com a Maria Dariu, se apresentando a ela como Samuel, Disse-lhe:

_ Boa noite, Senhora! Encantado com tanta beleza! Sou o Don Samuel, Duque de Servilha, Espanha.

Maria quedara-se, sem palavras. Don Nadie continuava:

_ Você é a gata mais gata que já vi.

Continuou dizendo que queria se casar com ela, pois era amor à primeira vista. Mas isso só seria perfeito se ela largasse mão do tão Don Nadie, do contrário, nada feito. E tinha mais! Deveria ser fiel a ele até depois de sua morte.

A coitadinha da Maria se apaixonou de imediato pelo Samuel e logo concordou com os termos do casório. Encontrou-se com o Samuel mais umas duas vezes. Nessa última, Ele disse-lhe que iria à Europa, à casa de seus pais para trazê-los para o casamento e que ela permanecesse fiel até que ele retornasse com os pais para o casamento.

Partindo o Samuel, Don Nadie ficou tranquilo e livre das cantadas e assédios de Dariu. Dois dias depois Dariu passa por lá e recebeu um telegrama da parte da família do Samuel. Jura o leu:

_ "SRA DARIU PT LAMENTAMOS INFORMAR QUEDA DO AVIAO QUE TRANSPORTAVA NOSSO SAMUEL. TODOS CARBONIZADOS PT PERDA IRREPARÁVEL".

Maria Dariu passou a vestir preto a partir desse dia por causa da pretensa morte do Samuel e nunca mais azucrinou a paciência do garoto Don Nadie.

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